Reflexões: A Flor de Lótus

“As pessoas mais belas com as quais tive a oportunidade de me encontrar são aquelas que conheceram a derrota, conheceram o sofrimento, conheceram a luta, conheceram a perda e encontraram o seu jeito de sair das profundezas.” – Elisabeth Kübler-Ross

Passeando por seu imenso jardim, Dragon parou defronte pequeno lago, onde semeará inúmeras sementes. Eram sementes da Flor de Lótus. Enquanto observava o desabrochar de tão bela flor, seu pensamento embarcou em profundas reflexões sobre o simbolismo desta encantadora criação divina.

A flor de lótus implica uma metáfora esplendorosa de como existem pessoas capazes de dobrar a dor e desdobrá-la posteriormente em forma de serenidade, autocontrole e persistência, representando o poder da resistência psicológica como capacidade para transformar a adversidade em potencialidade libertadora. Ou seja, resiliência, a essência da personalidade resistente. A resiliência é definida como a capacidade dos indivíduos de superar períodos de dor emocional e grandes adversidades.

Há pessoas que são caracterizadas pela sua grande capacidade de resiliência. São precisamente aquelas que têm como arma sua capacidade de se manter à tona diante das dificuldades, e encaram a dificuldade como aprendizado. As pessoas resilientes sabem que a imunidade ao sofrimento é impossível e compreendem que as tempestades que tornam nossos dias mais obscuros também são oportunidades para se superar. Elas se enchem de valor e continuam tendo como caminho prosseguir para crescer, apesar das adversidades. Elas envergam, mas não quebram. Todos temos as nossas próprias batalhas com as quais lidar e os nossos próprios recursos para enfrentá-las de uma forma ou de outra, temos apenas que descobri-los.

De acordo com Zongjing Lu, um clássico da filosofia confuciana, somos incapazes de encarar nossos verdadeiros sentimentos. Entretanto, nosso coração é como a flor de lótus. Quando o cultivamos, nos iluminamos e nossa alma se agiganta diante da vida. À noite, as pétalas da flor se fecham e ela submerge na água. Ao amanhecer, ela se levanta das profundezas escuras e ressurge à superfície, onde abre suas pétalas novamente. A noite escura antecede o dia com a promessa de um novo despertar após o recolhimento necessário. Da mesma forma podemos inferir que as dores que nos fazem submergir em tristezas profundas trazem o fundamento para o reerguimento à superfície. A luz libertadora está sempre à nossa espera, apenas aguardando que abramos nossos braços para então receber sua lucidez. As luminosas pétalas da flor de lótus têm o dom de se “auto limpar”, isto é, elas se purificam de todas as impurezas próprias do ambiente de onde emergiram para florescerem límpidas, mantendo o perfume que adoça o ambiente.

A flor de lótus simboliza o renascimento, o crescimento espiritual e a pureza do coração e da mente. O seu significado começa em suas raízes – literalmente! Suas raízes estão fundamentadas em meio à lama e ao lodo de lagoas e lagos. O lótus vai subindo à superfície para florescer com notável beleza. O simbolismo está especialmente na capacidade de enfrentar a escuridão e florescer tão limpa, tão bonita e tão especial para tantas pessoas. Simbolizando a alma que ressurge da lama e se ilumina na luz do amor, nos ensinando que é possível vivenciar as experiências da escuridão, na estrada da vida, sem nos contaminarmos com o lodo.

Um conhecido ditado oriental diz que: “A flor de lótus cresce apenas no pântano e nunca nas montanhas“, significando que para alcançar esse estado de elevação, é necessário praticar bons atos, ter atitudes responsáveis em meio ao caos momentâneo. É como o caminho do autodesenvolvimento que a cada um compete e pelo qual cada um é responsável. Que possamos aprender com a flor de lótus, nos mantendo límpidos e humanos para enxergar o que importa. E o que importa verdadeiramente na vida é ser justo mesmo na lama. Amar as pessoas não é o único dever que temos. Só quem é capaz de se amar pode amar os outros de verdade. A flor de lótus floresce na lama, mas podem limpar seus arredores. E suas folhas têm o poder de se sacudir e remover a água turva. Não sobram vestígios de sujeira nelas. Tal qual a flor de lótus que se mantém virtuosa, límpida apesar do ambiente sujo, nós também podemos nos mantermos fortes e virtuosos nas inúmeras vezes que somos envolvidos na “lama suja” dos que nos circundam.

Podemos aprender, com o simbolismo desta encantadora flor a sermos capazes de superar as adversidades que surgem pelo caminho da vida, não ficando retido a ambientes e experiências melancólicas ou sombrias, capazes de superar as tendências imperfeitas de nossa personalidade, e transformá-las para se integrarem como forças positivas no magnifico ressurgimento para a vida… límpido, perfumando o ambiente no qual florescemos.


"No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração." - Rabindranath Tagore


Cláudio Cordeiro – Dragon 🐉