“Os mais corajosos são claramente aqueles que tem a visão mais clara do que está diante deles, tanto a glória quanto o perigo… e, mesmo assim, vão ao seu encontro. ” – Tucídides
“E eu sei muito bem o que é isso. Só existe coragem quando há escolha a se fazer.” – Dragon 🐉

Dragon sabe quem eu sou. Sim! Dragon sempre soube!
Venho rabiscando teus traços ao longo destes anos e confesso: a cada dia que passa, percebo estar longe do esboço final. Os traços delineados são incompletos e modelam apenas um contorno refletido das aparências momentâneas. O quadro não pode ser pintado em seu esplendor. Faltam inúmeros rabiscos, traços e tonalidades, a refletir a integridade observada, na exuberância exposta de uma realidade ilusória.
Somente a Phoenix, com coragem e ousadia, pode pegar a lapiseira invisível do amor, da verdade, da realidade – sobre si mesmo – e traçar os rabiscos que faltam com as cores da coragem. Ainda que as cores sejam grosseiras, os rabiscos imperfeitos ao extremo, e os traços fortes e escuros, refletindo momentos de dores, medos, inseguranças, sem eles não há inteireza na lisura da imagem refletida. Qualquer tentativa do Dragon em preencher os espaços internos, ainda vazios do contorno visível e desenhado, resultaria em deformar com intensidade absurda a imagem da realidade.
Meus pensamentos me remetem a visualizar um roseiral em meio a um matagal de ervas sufocantes, daninhas que roubam a energia, o perfume e o brilho dos botões em florescimento, ofuscando toda a beleza e esplendor das rosas. Ainda assim, o jardineiro consegue visualizar o despontar do brilho, o leve aroma do perfume, a tímida energia por entre tantas ervas daninhas a rodear e sufocar o magistral roseiral. Entretanto, o jardineiro também precisa enxergar na escuridão os espinhos escondidos por entre os caules e folhas do doce roseiral.
Todo roseiral carrega em si os espinhos! Aonde estão os espinhos?
É preciso vê-los para não machucar a roseira. Para não os arrancar. Eles são parte, da rosa em florescimento, e a complementam, no contexto do jardim em criação. É um todo. É preciso enxergá-los para não machucar o jardineiro. O jardineiro sabendo que eles existem e onde estão saberá chegar ao delicado botão, rompendo o matagal de ervas daninhas, e aquecê-lo, protegê-lo das intempéries da vida. Então, o roseiral se transformará em um lindo campo repleto de verdadeiro brilho, de inteira beleza e “energia única e indivisível”, perfumando todo o campo. Seus espinhos? Continuarão completando toda a beleza audaciosa da rosa. A diferença? Agora são visíveis e não machucam, não causam dor, são caminhos para o encontro da luz que aquece e vivifica em plenitude.
Flores e espinhos são belezas que crescem juntas, não queira uma só, eles não sabem viver só…
Os espinhos são os rabiscos escondidos, omitidos, não desenhados, que delineiam a real imagem da Phoenix, refletida no quadro esplendoroso da vida e não apenas o contorno ainda inacabado das aparências, proporcionando ao Dragon bem mais que reconhecer intensamente, mas conhecer na inteireza e integridade da completude a verdadeira Phoenix.
“…Sempre que dois amantes se encontram, na verdade são quatro vozes que conversam. Os dois seres visíveis têm uma relação muito diferentes dos dois seres invisíveis. Eles podem estar discutindo violentamente no plano físico, mas suas almas estão em paz, e querendo se aproximar mais uma da outra…”. 14 de abril de 1922 (DM) – As cartas de amor do profeta – by Paulo Coelho
Só há um caminho possível para que as almas estejam em paz e se aproximem ainda mais, e quiçá, tornando-se uma: a verdade! a integridade!
Onde você não puder ser você mesmo, não se demore, pois é melhor simplesmente não ficar. Porque ser fiel a sua própria identidade, valores e dignidade requer ser forte no coração e corajoso nas decisões. No fim das contas, a vida já é muito complicada para que os outros apaguem nosso valor, nossa alegria, nossa autoestima. Não podemos nos permitir encaixar em espaços e dinâmicas que não combinam com a essência de nossas almas. As almas não conseguem se entrelaçar verdadeiramente, no redemoinho da paz, em uma tempestade de energias deletérias e não podemos permanecer onde as energias e as emoções negativas destroem a intimidade do momento de amar.
As mentiras não consolam, nem as meias verdades, menos ainda as inteiras aparências. É preferível a verdade, mesmo que doa. Mesmo que parta a alma, porque pelo menos seremos livres para tomar o caminho que desejarmos, em paz para realizar a escolha e curar as feridas com o tempo.
A mentira faz prisioneiros e nos condena a manter vidas vazias, falsas e carentes de autenticidade.
Sem dúvida, todos nós sofremos com os comportamentos e as atitudes daquelas pessoas que dizem que nos amam, mas que colocam um véu sobre nossos olhos, enquanto repetem que tudo está bem. Que não está acontecendo nada… Assim, a decepção ocasionada nem sempre vem pelo fato de que nos esconderam determinada realidade, o que nos decepciona é que, em determinado momento, pensaram que não “merecíamos” conhecer a realidade, a verdade, nos apresentando uma miragem . Quando somos íntegros na consciência da realidade, carregamos a verdade na alma, permanecendo límpidos diante dos olhares. Nos mostrando como somos e isso pode dar medo, mas é o única e verdadeira atitude que podemos, ou melhor, devemos ter quando escolhemos caminhar acompanhados.
Cláudio Cordeiro 🐉
